segunda-feira, 19 de março de 2012

Procura da poesia.

[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados,mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos,em estado de dicionário.
Convive com teus poemas,antes de escreve-los.
Tem paciência se obscuros.Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize  consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema e dsprender-se do limbo
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta,sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível,que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite,as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.


                                                                         Carlos Drummond de Andrade

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